Apelidos nunca foram meu forte, mas isso afirmo pelo ato de recebê-los, não em dá-los. Vários jocosos já passaram pela minha vida e por mais talentosos que fossem em alcunhar devidamente o outro, dificilmente tinham êxito comigo e quando sim, não pegava por muito tempo.
Muitas vezes quis ter um apelido, achava alguns legais e via como as pessoas gostavam dos seus. Outras vezes tive medo de algum pegar, vendo como maldoso um apelido poderia ser. Mas conforme o tempo foi passando apelidos vinham e caiam por terra. Os ruins, acho que foi pelo fato de conseguir sempre demonstrar tão teatralmente o quão são insignificantes. Os legais, acho que foi pelo fato de ter dificuldade em criar laços afetivos mais sólidos com as pessoas.
Nunca fui uma pessoa de me dedicar a apelidar os outros, mas isso é mais por falta de interesse do que por falta de talento. Cultivo bons apelidos e deixo bem no fundo do limbo de minha mente, abrindo eles de vez em quando a poucos e guardando rapidamente. Acho que isso é mais por medo de ser inconveniente com alguém e de ser mal entendido. Então procuro deixar o introvertido sendo o introvertido.
Fato é que sempre gosto de chamar as pessoas pelo próprio nome e de preferência pelo primeiro. Ainda mais quando alguma alcunha desta já esta mais do que viralizada. Aí é que geralmente faço mais questão de a chamar pelo nome. Isso porque eu acho legal e um pouco provocativo as vezes, isso porque tem gente que conheço que diz preferir o apelido e até querem me corrigir. Mas eu sei ser chato.
Cansadinho. Esse é meu apelido que mais pegou. Enquanto alguns duraram dias ou semanas esse já perdura a bons anos e eu até que gosto. O apelido em si não é bonito, mas retrata bem a imagem que eu passo, apesar do batismo ter sido feito por motivos totalmente irrelevantes.
Foi bem no começo da minha carreira profissional. No meu setor havia um cara alto, que trabalhava em dois empregos e consequentemente estava sempre o que? Cansado. Então acharam por bem o apelidar de Cansadão. Eu entrei na empresa dois meses após esse cara, no plantão noturno. Após as devidas apresentações no setor, alguém chegou e achou por bem falar: "Temos o Cansadão e agora o Cansadinho". Houve breves risadas e eu também ri, mas por simpatia do que graça. Acredito que por ser mais baixo e ser um alivio cômico para os moribundos que trabalham a noite, que acharam pertinente tal alcunha e não por estar levemente cansado. Afinal era final de tarde, havia dormido bem antes e estava empolgado em começar minha carreira.
Não imaginava que anos depois esse apelido continuaria presente na minha vida. Não que seja a principal forma de alguém me chamar. Quase sempre é um breve Alex. Mas de vez em quando um certo ar de saudosismo bate nos meus companheiros de trabalho, que acham por bem me chamar de cansadinho sempre fazendo alguma referência ao meu local de batismo. Eu até que gosto.
Acho que gosto porque apesar de tudo essa marca retrata bem o que nunca consegui deixar de ser desde que me entendo por gente: um pouco cansado. A vida inteira tive a obrigação de acordar cedo, sendo que isso significava não apenas acordar cedo, mas também dormir pouco. Então meus compromissos matutinos sempre foram carregados de um ar de "queria estar na cama". Levo umas três horas até despertar completamente. As vezes menos dependendo da quantidade de shots de cafeína. Vendo desta forma, acho que alcunha melhor não há.
O intrigante pra mim é que o devido nome me foi dado no momento mais inconveniente possível e, mesmo não me empenhando em carregá-lo, de vez em quando alguém lembra que ele está comigo. O que eu posso dizer? Prazer, Cansadinho.
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